BANQUETE ANTROPOFÁGICO

A efemeridade dos conteúdos e a eternidade dos invólucros caracterizam a modernidade líquida problematizada por Zygmunt Bauman, configurando um retrato da contemporaneidade. Fazendo com que a vida flutue entre os prazeres do consumo e os horrores do acúmulo de lixo, a realidade assim descrita suscita seres desapegados, descolados da realidade, como que constituindo uma permanente vanguarda a favor do eterno recomeço.
Reciclar idéias numa produção audiovisual foi a proposta detonadora do vídeo Banquete Antropofágico, produzido pelos integrantes do PhotoGraphein – Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação, FURG/CNPq.
Essa produção coletiva deu origem à exposição de mesmo nome, apresentada no Centro Municipal de Cultura de Rio Grande (RS), em maio de 2010. Nela, as imagens e os sons se mesclaram com a intenção de possibilitar aos espectadores digerirem as qualidades do nosso tempo através da poética de cada artista, e está disponível em: https://www.youtube.com/watch?feature...

Mário de Andrade em seu Manifesto conclama Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. Sugerimos aos espectadores a pausa reflexiva através de imagens-alimento do televisivo-antropofágico que nos leva a cegueira. Uma metáfora do alimento cultural, intelectual e comportamental instituído pela mídia. A máxima do consumo potencializa o sensacionalismo e a vulgarização da vida. Uma história canibalesca de consumo na qual o homem se alimenta da imagem banalizada do e pelo próprio homem.

O mundo líquido-moderno assim como postula Bauman abreviou drasticamente o lapso de tempo que separa o querer do obter, expondo as alegrias e o asco de ingerir o que o mundo nos encoraja e nos seduz a fazê-lo. A síndrome consumista é uma questão de velocidade, excesso e desperdício confrontando permanentemente o valor da novidade com o valor da permanência. Hoje o olho do consumidor não resiste a dar uma espiada no valor de mercadoria do sujeito que deseja, somos o que comemos e comemos o que somos. Projetamos o mundo e todos os seus fragmentos animados e inanimados como objetos de consumo. Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia. Eis a proposta de Mário de Andrade. Juntamo-nos a eles, Bauman e Andrade, em prol de uma experiência pessoal renovada e da sobrevivência de nossa sociedade e de todos nós, dependentes que somos da rapidez com que os produtos são enviados aos depósitos de lixo e da velocidade e ‘eficiência’ da remoção dos detritos.

Expositores:
Cássio Pinheiro, Cláudia Brandão, Claudia Tavares, Cláudio Azevedo, Chanaísa Melo, Daniel Correa, Elisa Salengue, Luísa Brasil, Roberta Cadaval, Sílvio Franz, Tatiana Brandão, Xênia Velloso

Registro da abertura da exposição disponíveis em:
https://www.youtube.com/watch?reload=...